Esta é a minha vez.
Tambores diabolicamente velozes bombeiam meu sangue e ditam minha pressa.
O sangue controla meu raciocínio e não há medo, não houve antes e nem haverá depois, só o que existe sou eu e a minha vez, agora estou desperto e livre, agora sou carne e osso, agora as cicatrizes desapareceram e assim também se foi a tendinite e o cisto e as dores; sou máquina.
Corre. Eu corro. Tudo que faço é fácil e veloz, indolor, mesmo quando o sangue irrompe para fora do ciclo. Tudo se realiza no mundo de ação, muito barulho indecifrável e muitos apelos à razão, mas não, agora não há razão, ela não existe. Agora, agora nada além de mim se move e todas as estrelas também param de girar, e conforme parte de mim se esvai pelo asfalto, os pensamentos voltam, mas confusos, apesar de que a dor não vem, mas deveria... o olhar não pára em lugar algum; agora eu entendo o que fiz, mas não há culpa, só estranheza, e cada vez mais... vazio... e confusão... os pensamentos não ficam, tudo foge, o corpo cede dormente, isto é o chão? Que frio... que frio...