sábado, 15 de janeiro de 2011

     Queria encontrá-la uma vez mais. Sei que não me negaria a mão. Que, por mais que não goste, não negaria se molhar na chuva comigo. Eu voltaria para me despedir outra vez, ela estaria me aguardando, pois sabe que sempre volto. Não entrava antes de me esperar voltar três vezes para dizer um novo adeus.

     Ela tinha bons lugares a ir, e se não tivesse, qualquer um seria bom apenas por estar com ela. Não é daquelas pessoas que infunde indecisão por ser timorata. Não, não; jamais fora de muitos "talvez".

     Sinto falta de montar guarda em frente à sua casa para surpreendê-la no ponto de ônibus. De receber seu convite para sair e cancelar quaisquer compromissos com seja lá quem fosse. Eu repetiria esse ato e perderia mil amigos e possibilidades só para atender-lhe o desejo novamente.

     Eu ouviria seu lamento outra vez. E iria prontamente ao seu encontro, e sem dúvida olharia em seus olhos o quanto pudesse - para sempre, se a fome e o cansaço não açoitasse, outrossim, o corpo dos que se perdem a vislumbrar o amor -, e tomaria sua compleição longilínea num largo e envolvente amplexo; não sobraria espaço que nos equilibrasse, e tombaríamos se nenhum dos dois ao menos tentasse, com os cotovelos ou ombros, se escorar em alguma parede para evitar a queda - sem que o outro percebesse esse cuidado, para que não desviasse a atenção do abraço para o fato de que caíam.

     Eu aceitaria seus desvarios e excentricidades só para que me abraçasse cada vez mais forte.

     Se eu pudesse brigar com ela mais uma vez, se eu pudesse correr atrás dela mais uma vez, se eu pudesse ser perseguido por ela mais uma vez, se eu pudesse tomar um sorvete com ela mais uma vez, se eu pudesse pisar a grama com ela mais uma vez, se eu pudesse estar ao lado dela mais uma vez, respirando o ar da mesma paisagem, aspirando pelo brilho do mesmo luar, expirando o suspiro pela mesma intenção, ah!, se eu pudesse, não perderia meu tempo escrevendo sobre coisas que não posso.

     Sorria-me novamente, deixe-me trançar teus cabelos novamente, permita-me que te faça cócegas na barriga novamente, diga-me: "Que há? Não me darás o braço para caminharmos? Vem, há uma bela árvore pela sombra da qual poderemos sentar; durante esta época, caem-lhe as folhas, e se ficarmos um bom tempo sem nos mexermos sob seus galhos, ao final estaremos recobertos por um véu de outono. Vem! Espero que tenhamos a sorte de este ser um dia em que muitas folhas despenquem!".





     Não sei mais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário