Percebo agora que, ao escrever aquelas palavras em linhas tortas e mal planejadas, eu estava vivendo numa analogia aquela troca de olhares de quase dez anos atrás. Se naquele dia distante no parque olhei, desta vez escrevi; se daquela vez me comprometi, desta vez me libertei de compromissos; se daquela vez me agrilhoei num desejo possessivo e obcecado, desta vez passei a amar sereno. Portanto imagino que tudo aquilo chegou verdadeiramente ao fim, toda aquela sensação de decepção e de derrota percebo-os agora como mentiras em que me obriguei a acreditar. Não repudio a essência dos sentimentos que nasceram e cresceram, mas sim a maneira destrutiva com que tudo se deu.
O marco de agora é isento de obrigações. Ao tecer cada letra eu destecia o manto de dores e orgulho ferido que eu insistia em carregar. O tecido desfiado caiu ao chão e eu o pisei sem pensar, as máculas destes anos eu deixei de lado sem muitas ponderações. Ao deixá-lo para trás, afinal, contemplei um futuro sem nomes brilhando, nos quais eu antes grudava ainda mais brilhos, um futuro sem obrigações estabelecidas pela tradição, e nenhuma obrigação de fato, um futuro sem fetiches nem tabus.
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