sábado, 25 de janeiro de 2014

Sobre o destino das memórias de todas as vidas

Tenho vontade de transformar cada objeto em relíquia de nosso amor, e mesmo esta correntinha, que você sempre me corrige dizendo "cordãozinho!", já penso em guardar para não perder na rua algum dia; com seu shortinho quero envolver um saquinho de sabonete de lembrancinha de casamento e deixar sempre no armário; penso em roubar seu brinco sem par feito de continhas em dois cordões e colocar na cabeceira da cama e vê-lo antes de ir e depois de vir dos sonhos; as páginas de sua agenda em que você escreveu amores por mim em cada linha, emoldurá-las; pendurar voador o tsuru feito com folha de rascunho de escritório no teto; ah, tantas preciosidades...
E mais, e que é maior: cada instante que vivi com você, e especialmente aqueles em que estivemos a sós, sendo nossas próprias e únicas testemunhas, recortes de tempo desconhecidos por todos e tudo; queria tê-los ali, todos esses momentos ao alcance de um toque no controle de vídeo, numa memória externa inescapável, menos corruptível que minha própria memória, tão humana e falha que já não lembro alguns detalhes incríveis destes últimos meses.
Então eu queria outra vida: esta para viver loucamente com você, outra para relembrar todas as coisas, parando e voltando e vendo alguns momentos mais devagar; então agora queria outras vidas sem conta para viver loucamente tudo de novo, e relembrar, e viver, e lembrar, e reviver, até minha consciência, tão expandida em lembranças e sentimentos de vidas mil, se romper, explodir e se abrir na plenitude da luz de todas as estrelas.

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