As ideias me são fugazes quando me disponho a escrever,
Mas me fustigam junto ao vento cortante da madrugada de inverno,
Enquanto caminho sozinho entre as casas onde vivi
E lamento meus despedaçados amores;
E outra vez se esvai a imaginação quando tento dar-lhe corda justamente nestas condições,
Caminhando, após uma conversa séria, ouvindo uma música triste, no frio, de madrugada,
Pois só nessas condições me treme a mão para escrever.
Mas só o que me vêm agora são as recordações das dores,
Não a exortação a um futuro onde as curo;
Queria me dar a pensar sobre habitar novamente minha última década para encontrar caminho,
Mas só me chamam as minhas velhas prosas, onde eu dizia querer "me divertir imenso e te cansar a beleza infindável".
sábado, 1 de setembro de 2018
Não couberam os cinco
quarta-feira, 15 de agosto de 2018
De 15 anos pra cá
Nos últimos anos, em que eu praticamente nada escrevi, alguma coisa muito profunda mudou em mim. Reli meus textos antigos, da época de Capei, e não, eles não são tão arrogantes quanto eu me lembrava. Muitos têm um vocabulário comum pincelado num quase surrealismo sintagmático; era disso que eu mais me orgulhava, de como eu fazia poemas sem versos. Mesmo os antigos textos obcecados com Capei são lindos e inspiradores, apesar da toxicidade a que tanto me expus tentando consagrar o "amor perfeito".
Mas como eu disse, alguma coisa muito profunda mudou em mim. A política e o trabalho me exigiram endurecimento, e por muito tempo reneguei minha escrita academicista - ou como assim eu a enxerguei nos últimos anos, sem nem olhar para trás. Enterrei minha prolixidade passional junto ao fim de Capei, e voltei a trabalhar a escrita, após esse período de anos em hiato, de maneira mais sóbria, dura, seca, sombria.
Mas como eu disse, alguma coisa muito profunda mudou em mim. E digo isso não só pela brutalização a que a vida me forçou, por tanto trabalho, frustrações acadêmicas, doenças e perdas; essas coisas me tiraram do mundo sonhador do fim da adolescência e agressivamente me jogaram no mundo adulto da exploração da força de trabalho e do embrutecimento. Digo que alguma coisa muito profunda mudou em mim porque, no processo de lutar pela minha sanidade, tornei primeiro minha mente rígida, criei barreiras espessas de aço para sobreviver ao dia a dia da rotina de trabalho; e hoje, após muito treino, finalmente flexibilizei minha mente. Não mais um velho adolescente sofrendo por amor não correspondido, mas também não mais tão rigoroso a ponto de não conseguir mais escrever nada por receio de estar sendo minimamente abstrato. Hoje quero voltar a escrever o que me der vontade.
quinta-feira, 5 de julho de 2018
Universitário
Será que quero mesmo estudar Grego de novo? Ou será apenas que não sei o que quero estudar e Grego é um passado intrigante da minha vida que quero resgatar? Ou será que a fabulosa quintessência acadêmica está tentando me fisgar, sabendo minhas inclinações elitistas no meu jeito de ser artista? Ou será que eu só quero alguma coisa difícil para prender minha atenção crescentemente volátil e um treino manual de escrita qualquer?
Num universo paralelo eu fiz iniciação científica com Giuliana Ragusa e me sobressaí a todos os colegas de estudos, e mesmo assim sem a arrogância típica dos letrandos em letras clássicas. Consegui a orientação de uma professora casca grossa do curso mais conservador de Letras da universidade pública mais importante da América do Sul, sem sequer correr atrás, como muitos fizeram sem sucesso; fui chamado por ela para ser seu orientando.
Não foi bem num universo paralelo. Foi há 5 anos. E eu deixei tudo isso de lado para continuar na vida operária. Não era uma simples questão de escolha na verdade. E mesmo assim era. Deve ter tido quem me odiou ou me achou leviano por abandonar uma iniciação científica do jeito que eu fiz... mas na parte em que me cabia escolher, escolhi o caminho para me construir quem eu quero ser, e acredito que tomei o caminho certo repetidas vezes, mas quem saberia dizer além de mim que é o caminho certo, sendo que parece tão estranho visto de fora?
Mas foi o que eu escolhi e não me arrependo nem um pouco, apesar de ser muito mais duro que viver na bolha acadêmica. Vão me dizer sobre oportunidades e essas coisas, mas não era uma oportunidade se me faria me distanciar de quem sou, do que sou. Era uma armadilha. Uma armadilha que me colocaria contra tudo que eu quero construir e oferecer, que reduziria o alcance da minha voz a uma pequena e privilegiada parcela da humanidade... não, eu quero o mundo, eu quero o verdadeiro mundo, quero as verdadeiras pessoas... eu quero o mundo inteiro, e me doar por inteiro nesta enorme batalha que é emancipar a humanidade do jugo de poucos. E para poder viver esta vida eu jamais poderia elaborar a antologia de Ájax Telamônio. Não... mesmo esta escolha já dizia lá no fundo que eu não estava apto para o papo do café literário burguês da sala dos professores da academia... não se eu fosse falar do Ájax Telamônio... vocês queriam beleza e eu só queria destruição. E o curioso é que tudo que eu quero destruir é meu privilégio de estudar; não quero destruir Ájax nem Aquiles, quero apenas destruir aquilo que impede que sejam estudados muito mais inteligentemente e abrangentemente, pelas futuras gerações, por qualquer um, por todos, por uma comunidade científica composta por todos os membros da humanidade. Eu quero destruir tão somente seus sonhos de grandeza e seu clube de masturbação erudito. Eu quero colocar fogo em seu ego, não em seus papeis. O conhecimento deveria ser livre; eu sou apenas um pequeno instrumento de sua libertação. Mas é tudo que sou; eu entender Homero é irrelevante e triste se Maria do Carmo não puder entender Homero.
sexta-feira, 1 de junho de 2018
Um ano sem falar de vocês
Minto. Faltam 5 ou 6 dias pra completar um ano. Descobri recentemente que sinto falta disso. Esse sempre foi meu principal exercício artístico. É curioso como, sem perceber, fui adequando cada tipo de necessidade a um veículo diferente: os cadernos sempre favoreceram as ficções; os blogs, abstrações cotidianas, desabafos, relatos; e agora o instagram veio ser um exercício criativo espontâneo que muito tem me ajudado a voltar a pensar artisticamente. Depois que comecei a me envolver politicamente com o mundo, minha principal barreira ao ato de escrever foi minha forma elitizada, academicista, consolidada há anos na forja das minhas presunções, da minha militância juvenil ateísta arrogante, do meu orgulho gramatical normativo, do meu prestigismo literário etc. E vejam só, mesmo lutando muito contra isso, ainda escrevo com um pezinho no que eu sempre fui. Não sei mais se estou mesmo sendo ainda muito elitista ou se este é o mínimo necessário de brisa poética dificultosa pra essa minha necessidade de falar de vocês sem revelar nada além de talvezes duvidosos.
Ah, sim. Eu comecei esse texto com intenção de falar sobre vocês.
Na verdade a maior parte de vocês acho que veio depois da última postagem, de quase um ano atrás. Mas uma parte, claro, vem de antes. Bom, como falar? Se eu ainda lembrasse como falar em grego, talvez fosse melhor, já que a principal ideia do meu jeito de escrever aqui é revelar sem revelar. Posso dizer que vi olhinhos antigos como eu não havia visto antes; também que outros olhinhos novos vi com gosto e desgosto alternados; outros olhinhos que achei que nem veria mais voltaram; e teve uns olhinhos puxados que quase me matam de tristeza de tanto mistério e afastamento - aliás, são dois pares de olhinhos puxados, mas um deles eu não posso dizer que revi mesmo.
Que horrível, não? Ou eu não sei mais não-dizer igual antes ou tenho bem mais receio. Nada que não melhore com algum treino, acho...
Olhinhos, eu gosto muito de todos vocês. Eu só sou péssimo pra dizer isso. Olha quantas voltas. Quem sabe daqui uns dias eu não melhoro. Afinal faz quase um ano. E eu nem sei mais o que tô falando. Tô com muito sono.