Será que quero mesmo estudar Grego de novo? Ou será apenas que não sei o que quero estudar e Grego é um passado intrigante da minha vida que quero resgatar? Ou será que a fabulosa quintessência acadêmica está tentando me fisgar, sabendo minhas inclinações elitistas no meu jeito de ser artista? Ou será que eu só quero alguma coisa difícil para prender minha atenção crescentemente volátil e um treino manual de escrita qualquer?
Num universo paralelo eu fiz iniciação científica com Giuliana Ragusa e me sobressaí a todos os colegas de estudos, e mesmo assim sem a arrogância típica dos letrandos em letras clássicas. Consegui a orientação de uma professora casca grossa do curso mais conservador de Letras da universidade pública mais importante da América do Sul, sem sequer correr atrás, como muitos fizeram sem sucesso; fui chamado por ela para ser seu orientando.
Não foi bem num universo paralelo. Foi há 5 anos. E eu deixei tudo isso de lado para continuar na vida operária. Não era uma simples questão de escolha na verdade. E mesmo assim era. Deve ter tido quem me odiou ou me achou leviano por abandonar uma iniciação científica do jeito que eu fiz... mas na parte em que me cabia escolher, escolhi o caminho para me construir quem eu quero ser, e acredito que tomei o caminho certo repetidas vezes, mas quem saberia dizer além de mim que é o caminho certo, sendo que parece tão estranho visto de fora?
Mas foi o que eu escolhi e não me arrependo nem um pouco, apesar de ser muito mais duro que viver na bolha acadêmica. Vão me dizer sobre oportunidades e essas coisas, mas não era uma oportunidade se me faria me distanciar de quem sou, do que sou. Era uma armadilha. Uma armadilha que me colocaria contra tudo que eu quero construir e oferecer, que reduziria o alcance da minha voz a uma pequena e privilegiada parcela da humanidade... não, eu quero o mundo, eu quero o verdadeiro mundo, quero as verdadeiras pessoas... eu quero o mundo inteiro, e me doar por inteiro nesta enorme batalha que é emancipar a humanidade do jugo de poucos. E para poder viver esta vida eu jamais poderia elaborar a antologia de Ájax Telamônio. Não... mesmo esta escolha já dizia lá no fundo que eu não estava apto para o papo do café literário burguês da sala dos professores da academia... não se eu fosse falar do Ájax Telamônio... vocês queriam beleza e eu só queria destruição. E o curioso é que tudo que eu quero destruir é meu privilégio de estudar; não quero destruir Ájax nem Aquiles, quero apenas destruir aquilo que impede que sejam estudados muito mais inteligentemente e abrangentemente, pelas futuras gerações, por qualquer um, por todos, por uma comunidade científica composta por todos os membros da humanidade. Eu quero destruir tão somente seus sonhos de grandeza e seu clube de masturbação erudito. Eu quero colocar fogo em seu ego, não em seus papeis. O conhecimento deveria ser livre; eu sou apenas um pequeno instrumento de sua libertação. Mas é tudo que sou; eu entender Homero é irrelevante e triste se Maria do Carmo não puder entender Homero.
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