Sei que as pessoas aparecem e somem de
nossas vidas e é impossível retê-las todas; o tempo não nos permite. Tentar
sustentar até o final da vida todas as amizades iniciadas é utopia porque o tempo
que dispomos para mantê-las vivas e interessantes vai-se tornando breve conforme
novas amizades surgem. E há o trabalho, há o estudo, há a recreação solitária – pela qual, particularmente, muita estima tenho –, há o sono... não há tempo,
simplesmente não há tempo para despender em amar todas as pessoas que
gostaríamos de amar e da maneira como gostaríamos.
Acho isso bastante aceitável; no fundo, é
mera questão de lógica. Leva-nos a selecionar pessoas com as quais desejamos
conviver mais. A maioria de nós, acredito, prefere ter poucos e bons amigos a
tê-los muitos e intimamente desconhecidos. Enquadro-me nessa maioria. Aceito
plenamente que grande parte das pessoas com quem já gostei de conversar algum
dia não mais converse comigo atualmente. Amei-as, sim, de certa forma leve e
pacífica; e mesmo amando assim, apenas pouco, minha vida estará sempre marcada
pela sua presença, ainda que passageira. Até vejo certa beleza nisso; porém
somente se for dessa forma, com esse singelo desapego.
Aceito, também, mas só após muito
contestar e brigar, que grandes amigos de longa data também saiam de minha
vida. Vejo como uma seleção dentro de um período de tempo maior. Isso,
contudo, é aflitivo. Porque eu quis amá-los para sempre durante todo este
tempo; é diferente daquela primeira seleção, que tira da quase indiferença ou
mero coleguismo alguém com quem se pretende construir uma amizade. Neste caso
mais triste, que é como uma segunda seleção, tira-se do grupo de pessoas amadas
alguém com quem não mais se conviverá como antes.
Portanto, pelos motivos que expus, não me apegarei, desesperadamente, a todos os sorrisos que encontrar durante
minha vida. Algumas pessoas se afobam em manter um contato breve e raso com
milhares de amigos e talvez jamais se sintam verdadeiramente unidas a alguém.
Não vejo proveito nisso; chego a preferir quase o outro extremo.
Sugiro somente que não me hostilize
quando perceber que não sou alguém que você tiraria da indiferença primordial,
porque tal agressão é tola e risível e em nada me afetará. Só tornará você uma
pessoa indesejável. Você não precisa tentar criar inimizade por quem não quiser
amigo. Essa primeira seleção geralmente é indolor para os não selecionados – e,
no meu caso, não causa o menor transtorno. Basta não demonstrar o intento de me
amar.
O grande problema, como já disse, é a
segunda seleção... e se você for me escolher para não mais me amar como me amou
por todo este tempo, demonstre isso, diga-me pelo menos alguma mentira, diga-me
que se mudou ou que vai se mudar para a Austrália, diga-me que não tem muito o
que conversar, a vida anda numa monótona misantropia deleitosa e nela você
pretende continuar, diga-me que você não tem tempo; isso, diga-me que não tem
mais tempo, este que é o principal agente no cultivo da amizade, este que torna
especiais as rosas e prazeroso o barulho do vento no trigo, porque assim
entenderei que fui selecionado e saberei agir. Poderei tentar mudar minha
amizade com você a fim de continuarmos amigos, se eu achar que me vale tanto a
este ponto; mas, se eu contestar e brigar e ainda assim você me disser que não,
saberei agir. Só não me esqueça à indiferença, tampouco me hostilize, porque
aí, sim, vou me preocupar e me agitar e me desesperar achando que fiz algo de
terrivelmente errado e danei todo o amor que tínhamos. Diga um sutil adeus;
agora sabe que entendo você. Não tenha vergonha ou remorso; assim é a vida.
Sofrerei e ficarei magoado, isso é óbvio, pois, embora saiba aceitar, não o
faço levianamente. Rememorarei todas as nossas conversas e risadas, as
discussões, os presentes, os olhares, os abraços, os encontros combinados e os
fortuitos, a primeira vez que nos vimos; enfim, o momento quando nos
selecionamos da indiferença... esta última é a lembrança de nossas vidas juntos
que mais retornará à minha mente sempre que de você me lembrar.
Será ainda mais dolorido, e lutarei ainda
mais ferozmente contra a separação, se você for alguém que desejei amar além da
amizade; isso ocorre tão frequentemente comigo...
...mas, apesar de tudo, adorei tê-la
conhecido, continuemos amigos ou não. E todos vocês.
Profundo. Amei. Quem mereceu essas palavras é, com certeza, muito especial.
ResponderExcluirÉ especial porque é rosa que me cativou...
Excluir