quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Vindouras, vindas e findas amizades


Sei que as pessoas aparecem e somem de nossas vidas e é impossível retê-las todas; o tempo não nos permite. Tentar sustentar até o final da vida todas as amizades iniciadas é utopia porque o tempo que dispomos para mantê-las vivas e interessantes vai-se tornando breve conforme novas amizades surgem. E há o trabalho, há o estudo, há a recreação solitária – pela qual, particularmente, muita estima tenho –, há o sono... não há tempo, simplesmente não há tempo para despender em amar todas as pessoas que gostaríamos de amar e da maneira como gostaríamos.
Acho isso bastante aceitável; no fundo, é mera questão de lógica. Leva-nos a selecionar pessoas com as quais desejamos conviver mais. A maioria de nós, acredito, prefere ter poucos e bons amigos a tê-los muitos e intimamente desconhecidos. Enquadro-me nessa maioria. Aceito plenamente que grande parte das pessoas com quem já gostei de conversar algum dia não mais converse comigo atualmente. Amei-as, sim, de certa forma leve e pacífica; e mesmo amando assim, apenas pouco, minha vida estará sempre marcada pela sua presença, ainda que passageira. Até vejo certa beleza nisso; porém somente se for dessa forma, com esse singelo desapego.
Aceito, também, mas só após muito contestar e brigar, que grandes amigos de longa data também saiam de minha vida. Vejo como uma seleção dentro de um período de tempo maior. Isso, contudo, é aflitivo. Porque eu quis amá-los para sempre durante todo este tempo; é diferente daquela primeira seleção, que tira da quase indiferença ou mero coleguismo alguém com quem se pretende construir uma amizade. Neste caso mais triste, que é como uma segunda seleção, tira-se do grupo de pessoas amadas alguém com quem não mais se conviverá como antes.
Portanto, pelos motivos que expus, não me apegarei, desesperadamente, a todos os sorrisos que encontrar durante minha vida. Algumas pessoas se afobam em manter um contato breve e raso com milhares de amigos e talvez jamais se sintam verdadeiramente unidas a alguém. Não vejo proveito nisso; chego a preferir quase o outro extremo.
Sugiro somente que não me hostilize quando perceber que não sou alguém que você tiraria da indiferença primordial, porque tal agressão é tola e risível e em nada me afetará. Só tornará você uma pessoa indesejável. Você não precisa tentar criar inimizade por quem não quiser amigo. Essa primeira seleção geralmente é indolor para os não selecionados – e, no meu caso, não causa o menor transtorno. Basta não demonstrar o intento de me amar.
O grande problema, como já disse, é a segunda seleção... e se você for me escolher para não mais me amar como me amou por todo este tempo, demonstre isso, diga-me pelo menos alguma mentira, diga-me que se mudou ou que vai se mudar para a Austrália, diga-me que não tem muito o que conversar, a vida anda numa monótona misantropia deleitosa e nela você pretende continuar, diga-me que você não tem tempo; isso, diga-me que não tem mais tempo, este que é o principal agente no cultivo da amizade, este que torna especiais as rosas e prazeroso o barulho do vento no trigo, porque assim entenderei que fui selecionado e saberei agir. Poderei tentar mudar minha amizade com você a fim de continuarmos amigos, se eu achar que me vale tanto a este ponto; mas, se eu contestar e brigar e ainda assim você me disser que não, saberei agir. Só não me esqueça à indiferença, tampouco me hostilize, porque aí, sim, vou me preocupar e me agitar e me desesperar achando que fiz algo de terrivelmente errado e danei todo o amor que tínhamos. Diga um sutil adeus; agora sabe que entendo você. Não tenha vergonha ou remorso; assim é a vida. Sofrerei e ficarei magoado, isso é óbvio, pois, embora saiba aceitar, não o faço levianamente. Rememorarei todas as nossas conversas e risadas, as discussões, os presentes, os olhares, os abraços, os encontros combinados e os fortuitos, a primeira vez que nos vimos; enfim, o momento quando nos selecionamos da indiferença... esta última é a lembrança de nossas vidas juntos que mais retornará à minha mente sempre que de você me lembrar.
Será ainda mais dolorido, e lutarei ainda mais ferozmente contra a separação, se você for alguém que desejei amar além da amizade; isso ocorre tão frequentemente comigo...
...mas, apesar de tudo, adorei tê-la conhecido, continuemos amigos ou não. E todos vocês.

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