domingo, 25 de agosto de 2013

Ganondorf e a luta de classes

Gerudo Valley: terra dos ladrões, árida, em que mulheres negras enfrentam uma luta diária por sobrevivência, furtivamente, por meio de roubos e de uma organização social quase independente do sistema monárquico de Hyrule, sistema este por elas desprezado e contra o qual têm constantes conflitos. A concentração de renda, evidente no alto padrão do castelo de Hyrule e nos demais centros aristocráticos ao seu redor, inevitavelmente é o fator que está no princípio das desigualdades e que culmina na necessidade de milhares de indivíduos de viverem à margem das leis impostas pela minoria rica; daí nascem as ladras do vale Gerudo. Então, no âmago dessa classe oprimida e isolada pelos reis que vivem na soberba, nasce Ganondorf Dragmire, destinado a ser o rei dos ladrões e a libertar seu povo.
Obviamente, não é na pele de Ganondorf que o jogador de Zelda se encontra, e sim na pele do herói dos aristocratas de Hyrule, Link, o Herói do Tempo - cuja sina, intrinsecamente relacionada à de Ganondorf, transcende as gerações desde a primeira até a última das eras numa eterna batalha em que a falsa dicotomia entre o Mal e o Bem é, de maneira bem conveniente aos poderosos, representada por Ganondorf e Link - destinado desde seu nascimento a combater o "mal" que Ganondorf e, consequentemente, todo o seu povo, representa aos olhos das classes favorecidas pelo regime em questão.
Parece amargo o destino de Hyrule quando, enfim, Ganondorf obtém parte das relíquias divinas, conhecidas pelo nome Triforce, e destrói boa parte das capitais e do sistema que antes vigorava. Mas isso não passa de milênios de opressão finalmente vingados, de maneira impetuosa, como não poderia deixar de ser. A destruição do sistema inevitavelmente acarretaria na destruição das instituições estabelecidas pela aristocracia de Hyrule, e só por meio dessa destruição o sistema poderia ser subjugado e erradicado.
Infelizmente, quando Ganondorf é derrotado no fim do jogo, o jogador e a princesa Zelda voltam no tempo, 7 anos antes da batalha final (dessa época em questão, do jogo Ocarina of Time), bem próximos do ponto em que Ganondorf se apossaria de parte da Triforce; entretanto, por causa de alguma magia, inerente ao universo do jogo, Ganondorf também não está mais nesse passado, pois teria sido morto no futuro por Link. Não foi, porém, uma simples morte; o espírito de Ganondorf ficou aprisionado numa espécie de dimensão paralela, e toda sua existência foi apagada daquela época.
Mas o "Mal", predicado de Ganondorf e de alguns outros "vilões" (curioso como esse termo refere-se, primordialmente, ao sujeito que vive numa vila, ao plebeu, ao pobre que trabalha pesado para sustentar os ricos) durante toda a série, sempre se liberta e retorna.
Tomando como pressuposto o mito das reencarnações das personagens durante a série, é possível afirmar que a essência da luta de Ganondorf é a mesma em todas as suas reencarnações. Sendo assim, ainda que no Ocarina of Time tudo isso que eu escrevi não tenha ficado claro por conta, talvez, de limitações técnicas ou de estilo narrativo, lembro-me de quando, no Wind Waker (se não estou enganado quanto ao jogo certo da série) - cuja história é posterior à do Ocarina of Time - Ganondorf, mais uma vez líder de um povo e de criaturas desajustadas e enjeitadas, conta a Link, num diálogo marcante, sobre toda a opressão de seu povo durante centenas e centenas de anos, desde eras passadas, e sobre como seu objetivo não é lutar pelo propósito simples de destruir o mundo, mas sim por libertar os povos oprimidos.
Decerto toda esta análise tem muitas diferenças com o mundo real e atual para fazer uma analogia completa. Mesmo assim, os pontos em comum são bem claros. Para não ficar aqui só engrandecendo Ganondorf, devo dizer que ele destruiu, também, lugares e povos que eram igualmente oprimidos pela aristocracia; mas como exigir absoluta racionalidade de um sujeito que carrega na essência de seu ser o ódio e o desejo de sangue numa retaliação por gerações infinitas de seres (seu povo de ladrões, principalmente) desgraçados pelo sistema? Ganondorf não é puramente o libertador e o salvador dos povos, que traria igualdade a todos e instituiria um novo sistema sem classes, sem ricos ou pobres; ele é, primordialmente, o desespero e o ímpeto belicoso que surge quando as tensões sociais são tão aflitivas que não mais se pode conter o braço que se levanta em luta.
E pensar, hoje, que sempre nutri mais simpatia pelo "vilão" da série Zelda e que a música tema de Gerudo Valley sempre foi a minha favorita... eu só não tinha noção dos significados por trás da "maldade" de Ganondorf.

sábado, 17 de agosto de 2013

Fetiche

Devo admitir minha crescente admiração por cabelos. Seria uma cabelofilia, capilofilia, o quê? Estudo grego e não sei. Enfim, hoje novamente fui vítima dessa minha paixão após despedir-me de duas amigas que embarcavam em seu ônibus no terminal da estação de metrô, quando saí em direção ao ponto de minha condução.
Uma mulher com uma jaqueta azul se apressava alguns metros adiante em direção ao que me pareceu ser meu ônibus; mas o que eu vi mesmo foi o movimento dos cabelos, uma cascata densa de cachos muito enrolados de negros cabelos de negra, que lhe caíam até o meio das costas, cascata que dançava com o andar da moça. Meus olhos em fascínio, o queixo caído, apertei meu passo para conseguir entrar no mesmo ônibus, que de fato era o meu, e obtive sucesso.
Minha primeira vontade, após entrar em seguida à moça, foi a de mergulhar o rosto em seus cabelos. Quis pedir para que me deixasse tocá-los, quis dizer-lhe que eram a coisa mais bonita que eu já vira em tanto tempo, que seus cachos venciam facilmente mesmo os longos cabelos castanhos de minha sempiterna Capê. Quase me atrevi a falar com ela, mas o máximo que consegui foi intrometer-me no diálogo que ela principiara com o motorista a respeito dos horários dos ônibus, antes de ele dar partida no motor; entretanto, ela não se dirigiu a mim em momento algum, apesar de eu ter criado situações favoráveis a isso.
Ela tinha também a beleza de seus cabelos no corpo e no rosto, a beleza negra que pouco ou nada se rendera aos traços europeus das miscigenações. Certa vez ela mudou o braço com que se segurava e, nesse momento, brevemente nos olhamos, e resta-me ainda agora a desconfiança de que nessa viagem de ônibus estive acompanhado de deusa pagã da beleza e da paixão e dos encantamentos e dos cabelos. Sei que fui desonesto ao fazer isto, mas utilizei meu celular para tentar filmá-la e ter sua recordação por muito tempo. Quando, contudo, fui ver o vídeo, agora há pouco, descobri que de nada me servirá, porque a gravação mal a mostra direito; eis que agora me pergunto se não havia mesmo algo de místico nela, por ter-me tanto assim enlevado e por não ter conseguido filmá-la, apesar de ter boas condições de luz e posição para fazê-lo bem. Perdida assim a prova desse encontro, não poderei mostrar nada a meus amigos para que acreditem quando eu disser ter visto o mais belo dos cabelos.
E foi assim que hoje, mais uma vez, me apaixonei.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Outra crônica de minhas paixões

           Hoje de manhã, fui comprar dois cafés, um para mim e um para uma amiga, pois disse ela que devemos oferecer uma bebida quente para uma pessoa amiga que esteja triste, como ela estava.
           Comprei a ficha e fomos ao balcão. Chegou a moça e ofereceu seu atendimento; respondi:
           - Dois mocaccinos.
           Alguma coisa engraçada havia acontecido no processo, não me lembro o quê: ou eu gaguejei, ou ela falou algo errado, ou as duas coisas, não sei. Nesse nosso breve diálogo, ela abriu um sorriso muito bonito e verdadeiro, daqueles quando a outra opção seria segurar um riso de constrangimento mútuo. O impacto que esse sorriso causou é justamente o motivo por eu não me lembrar direito por que nós sorrimos um para o outro - meu sorriso em retribuição nascera de imediato, logo após o dela.
           Enquanto ela se afastava para pegar os cafés, virei para minha amiga, que, disse ela posteriormente, me observava e já suspeitava do que eu iria dizer. Minhas feições eram de uma tola alegria. Eu disse:
           - Acabo de me apaixonar pela moça da lanchonete.
           - Eu sei! Na hora que ela riu eu já percebi pela sua carinha! - ela respondeu.
           Caímos na gargalhada. Ela me conhece muito bem.

domingo, 4 de agosto de 2013

Zelda

Depois de muitos anos jogando muitos Zeldas, e agora tendo terminado novamente o Ocarina of Time, só posso reafirmar que este é o melhor de todos os jogos que já joguei. Merece remakes até o final dos tempos ...