terça-feira, 16 de setembro de 2014

Não lerei milhões de livros

Até calculei o tempo que teria para ler na vida e vi que não leria tanto quanto gostaria.

Queria ler livros clássicos e novos, ler quadrinhos e ficções e séries imensas. Ler e reler, e guardar as palavras e aprendê-las para já as conhecer na releitura, para utilizá-las em minhas próprias ficções em que eu aspirava megalomaníaco.

Hoje há muito tempo não leio com a frequência que gostaria de ter mantido para conseguir ler, durante a vida, o tanto de livros que já não me satisfaria na contagem inicial. Algumas vezes me senti mal por isso, muito mal, mas tenho encarado bem o fato de que os planos mudam conforme as necessidades.

Também agora pouco escrevo e não saberia manter mais o mesmo estilo de antes, de grande autor renomado ganhador de prêmios e para sempre idolatrado fenômeno literário e gênio de sua época e quiçá de todas, apesar de que isso talvez seja bom, porque aquelas palavras eram estúpidas demais e raras demais e intelectuais demais e não as quero mais, e se algum dia eu for rever meus textos para edição vou cortá-las todas. Deixei na casa de minha mãe a caixinha de band-aids em que eu guardava folhinhas com palavras burguesas tiradas de livros inacessíveis para sempre delas me lembrar; e esqueci onde deixei. Se encontrar, destruo.

Quem sabe um dia não consigo reorganizar a vida para conseguir voltar a um ritmo em que consiga militar de verdade, ler bem, voltar a escrever... hoje, contudo, os livros de guerreiros medievais, os de dragões e de elfos e de viagens intergalácticas e de terror e de destruição e de alienígenas e de mistério, e ainda os de ciência e filosofia; todos esses livros, que eu tanto gostava, ficarão em segundo plano...

Porque hoje quero mergulhar nos livros que me armarão cada vez melhor para lutar para que todos possam ler os livros que quiserem, e não ler apenas se não quiserem. Para que para ninguém exista só o pão, mas sim todos os pães; para que todos possam ter acesso a todos os frutos que a sociedade pode produzir.

2 comentários:

  1. "Porque hoje quero mergulhar nos livros que me armarão cada vez melhor para lutar para que todos possam ler os livros que quiserem, e não ler apenas se não quiserem. Para que para ninguém exista só o pão, mas sim todos os pães; para que todos possam ter acesso a todos os frutos que a sociedade pode produzir": esse último parágrafo foi foda.

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