sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Surge à lembrança

     Eu a observava de longe, a caminhar. Era um andar cheio de música. Música muda, que só soa - em acordes que inexistem além de concepções inexatas de uma mente apaixonada - quando evoco à memória seus passos. Sinto saudades.

     Sim, acompanhava-a com o olhar, às vezes. Ela soube, alguma vez? Não, sempre mantive silêncio sobre este hábito. Só agora o revelo.

     E minha vontade, que sempre fora sair aos brados, clamando por seu amor, e alçá-la à brisa leve das alturas de um rodopio, abraçando-a pelas pernas, precipitando-nos ao perigo do meio-fio da movimentada avenida, e receber, ao entregá-la de volta ao contato do solo, um sorriso estupefato de felicidade e amor, seguido de um beijo apaixonado enquanto apoiados de qualquer forma aparentemente desconfortável no poste ao lado da banca de jornal, ah!, feneceu, cansou-se de quase se concretizar por pouco.

     Mas, as memórias, as memórias! Cheias de música e cabelos ao vento. A chuva! A chuva fria na noite escura e deserta. E tudo por onde paramos e olhamos para algum lugar, pensando sobre o que falar, para onde ir.

     À minha volta, um mundo cheio de marcas. Por onde fez-se horizonte a seus olhos. Pelos lugares que nossas sombras tocaram. Pelos muros que ouviram nossas risadas.

     Um mundo cheio de marcas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário