domingo, 7 de agosto de 2011

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     Eu tinha 42 antes desta, segundo o blogger.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Provável último abraço de mais uma pessoa que provavelmente nunca mais verei


Sou puxado pelo braço. Deixei-me ver de propósito.

- Vem, vamos comemorar!
Vejam só, a comemoração é a promoção de uma colega de trabalho e minha saída da empresa para uma melhor. Compramos três latas de cerveja ("- Você bebe, Felipe?", "- Bebo, sim") e nos sentamos a um canto sujo de cinzas de cigarro e mijo de mendigos. Tudo bem.
Relatam suas primeiras e segundas e demais impressões dos colegas de trabalho e da empresa durante o tempo que viram passar. Ouço. Minha cerveja foi em um minuto; as delas, leva tempo. Mas não quero tomar mais.
Passado algum tempo, nos levantamos. Esqueço minha latinha lá, aliás; só me lembrarei disso depois. Enfim, levantamos-nos e vamos ao metrô.
- Mas a gente vai se falando, é claro. A menos que suba pra cabeça.
- Como assim?
- É porque todos que saem dizem isso: vamos nos ver, vamos manter contato, blablablá. Mas passa algum tempo e somem.
- Pois é. A gente se fala, então.
Sorrisos de velhos amigos. É sempre assim mesmo, eu sei, ela sabe, todos sabemos; dizer aquilo foi mera formalidade, como fora com vários antigos amigos de todos nós, para os quais dissemos ou ouvimos essa mesma conversa sobre "que seja diferente do que sempre acontece".
O que é provável, mesmo, é que nunca mais a verei na vida.
Abraçamos-nos brevemente, como amigos que se viriam logo na manhã seguinte.
- Tchau, Felipe, e pode deixar, viu: tenho o telefone lá do escritório, e vou ligar pra gente se ver, combinar de dar umas voltas!
- Hehehe, tá certo. Até mais, e que dê tudo certo pra você no cargo novo!

Adeus!

domingo, 27 de março de 2011

Para meu desespero,

estou cada vez mais ciente de que, no fundo, eu odeio todos vocês e gostaria de estar longe no espaço e no tempo.

terça-feira, 1 de março de 2011

O real e a realidade

De um ponto de vista científico, a realidade captada por nossos olhos não é das mais exatas: nossa visão ignora o espaço vazio entre os componentes microscópicos dos átomos e vemos as coisas como se fossem sólidas, enquanto na verdade o Universo não é contínuo – ou seja, a matéria não está verdadeiramente unida, suas partículas não estão concretamente justapostas.
Cientes disso, libertados da ignorância advinda da ilusão por nossas próprias mentes criada para que pudéssemos observar o mundo da melhor maneira possível, podemos chegar à ideia de que talvez haja uma visão, uma interpretação mais apurada que a de nossa ciência. E assim como nossa percepção ocular, mental, cotidiana, banal é inexata do ponto de vista dessa nossa ciência, a uma ciência mais avançada – ou a uma capacidade visual mais privilegiada – nossa visão científica pode também ser imprecisa.
Podemos seguir este raciocínio ad infinitum: talvez haja algum outro conhecimento mais preciso. Talvez outro mais, ainda além.
Enfim, podemos chegar à compreensão de que o real, que existe fora de quaisquer interpretações e percepções, talvez nunca possa ser visualizado – por ser, provavelmente, intangível.
Possibilidade paradoxal que jamais se poderá descartar é a de não existir esse real. Apenas realidades.

“Existe uma teoria que diz que, se um dia alguém descobrir exatamente para que serve o Universo e por que ele está aqui, ele desaparecerá instantaneamente e será substituído por algo ainda mais estranho e inexplicável.
“Existe uma segunda teoria que diz que isso já aconteceu.”
(Douglas Adams)                           

domingo, 27 de fevereiro de 2011

A Lúcio

Caro Lúcio

Como tens passado? Há tempo não nos escrevemos com a mesma frequência de quando entabulamos esta nossa guerra – faz mais de meia década, não? No auge de nossa peleja, em um só mês correspondíamos-nos por mais de cinco vezes. Conforme viemos nos aproximando de seu desenlace, todavia, nosso contato passou a arrefecer; talvez tenha sido uma forma inconsciente de protelar o final de nossa conflagração, ou o desgaste natural de uma comunicação deveras constante. Além disso, nossos movimentos evidentemente se tornaram mais intricados à medida que conquistávamos, cada um, territórios alheios e caíam os soldados feridos, subjugados; foi-nos mister ponderar ainda mais detidamente antes de cada lance. Decerto também amadurecemos nosso diálogo; conquanto nos tenhamos tornado missivistas pouco assíduos, o teor de nossas mensagens se tornou menos leviano.
Como vai Lisbela? E tuas crianças? Quanto a minha Mônica, antes que me perguntes, te adianto que me deixou há alguns meses; não te contei antes pois me abalara tanto a separação que só de pensar nisso ainda me revolve o espírito.
E meu amado Jeremias, já o principiei nos estudos de nossa bélica arte estratégica. Ainda que incipiente, já esboça bons planos – até mesmo quase me apanhou, três ou quatro vezes, com não pouco elaborados ardis. Praticamos todo fim de semana; Mônica concedeu-me essa última gentileza, e passo álacres sábados e domingos com meu garotinho. Recordas-te de quando encetamos nossa epistolar disputa? Ele havia acabado de vir ao mundo; adversário amigo, como devo ter saturado tua paciência expressando repetidamente meu rejúbilo pelo nascimento de meu herdeiro!
Ah!, foram curtos, céleres anos, mas perduram amplas lembranças. E, embora nossa condição como antagonistas, não foi senão contigo que partilhei muitas de minhas mais íntimas angústias e alegrias?
Digladiaram-se com denodo, nossos exércitos. Recordas-te do primeiro embate? Fora aflitivo; por tanto tempo vínhamos apenas dispondo nossas tropas em praticamente inexpugnáveis formações que esse primeiro contato, durante o qual alguns de meus soldados tombaram, aluiu-me a bravura, e desesperei. Temi pelo pior; estive certo de que tua superior argúcia, já fulgurando, rapidamente te levaria à vitória. Minha cautela de nada mais poderia servir. Até que, naquele deslize de tua prudência, um de meus pelotões sucedeu em tomar teu torreão leste, permitindo a um destacamento de minha infantaria flanquear tuas defesas. Desse momento em diante, nossa belicosa rivalidade abrasou-se; lances cada vez mais industriosos surgiram, pondo em prova nossas menos treinadas habilidades – e, destarte, evoluímos. Mas, desde o dia em que aquele teu bispo negro falhou em teu fito de engendrar um morticínio em minha tropa avançada, observei que menos audazes se tornaram tuas investidas. Tua perícia entrou em declínio. E tuas palavras têm sido um tanto – embora quase indistinguível – macambúzias. Possivelmente notaste a irreversibilidade de minhas vindouras conquistas, a partir dessa última. Claro que me dediquei e aproveitei todas as chances que se me apresentaram para derribá-lo; não é sempre que de tão proveitosa maneira – ao oponente – falha um competente estrategista.
Decerto já adivinhaste meu próximo movimento, caro oponente. Não posso delongar esta já extensa disputa sendo complacente com teus erros. Não posso retroceder meus soldados para procrastinar o iminente ocaso de nosso conflito. Toda guerra chega a um termo. Foram ótimos anos de luta, mas chegou o momento de descansar a mente de tantos estratagemas.
Espero, contudo, que com isso não chegue ao final também nossa amizade, porquanto é tudo, além do aprimoramento de nossas competências, que verdadeiramente conquistamos de edificante, conquanto a recente bruma de guerra nos tenha, aparentemente, distanciado um pouco. Não acredito na viabilidade de um novo repto – não quejando, nem agora. Duelos assim fatigam. Mas ser-me-ia agradável qualquer sugestão para uma nova e distinta contenda – à qual, após algum repouso, aceitaria prazerosamente.
Como já disse, é certo que sabes qual será meu próximo passo, em seguida ao qual poderemos outra vez dispor redivivos nossos soldados – que há tanto jazem sucumbidos – em nova formação contra novos oponentes, e ansiaremos pela miríade de possibilidades de novas táticas e diferentes desfechos. Ainda assim, não deixarei de denotá-lo ao final desta mensagem, como sempre fizemos.
Que tal agora se marcássemos de nos conhecer pessoalmente, meu caro?
Boas festas de fim de ano, e um grande abraço de teu adversário enxadrista,

Felipe                                                                              





Be5++

Preciso, sim, e me perdoe por isto, dizer mais que com códigos; com a palavra: Xeque-mate.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Silogismo aristotélico

     Segundo Aristóteles,

     Todo homem é mortal;
     Sócrates é homem;
     Portanto, Sócrates é mortal.

     Premissas verdadeiras, conclusão verdadeira. Agora, vê a diferença que um artigo definido faz:

     Todo o homem é mortal;
     Sócrates é homem;
     Portanto, Sócrates é mortal.

     Ainda estão corretas, as premissas?
     Pensa: cada homem é mortal. Que significa mortal?
     - Ora, aquilo que morrerá, um dia. Ou, aquilo que causa morte; mas esta acepção não convém ao caso.
     Sim. E o que morre em nós? Morrem as células, os tecidos, os sistemas. Morre o corpo, morrem os sentidos.

     Todo o homem é mortal;
     Sócrates é homem;
     Portanto, Sócrates é mortal.

     Sim, as premissas ainda parecem corretas. Mas eu não dissera sobre uma diferença – substancial, pela forma como anunciei – nascida da inclusão de um mero artigo?

     Todo o homem é mortal.

     O homem é mortal por completo?
     - É.
     Morre o corpo, morre a mente, morre tudo. Alma e espírito, morrem? Até onde sabemos, não há resposta. Nem uma perfeita definição científica desses termos. De qualquer forma, não temos mais contato com essências etéreas que deixam seus corpos, após sua morte – não um contato cientificamente comprovado, pelo menos.

     Sócrates é homem.

     Sócrates morreu. Sócrates foi, e não mais é, homem. Sócrates foi um filósofo de renome, e sua contribuição foi no mínimo imensa para a Filosofia e para a humanidade – ou não se demarcaria a história e o estudo daquela em, dentre as segregações uma das principais, "pré-socrática", que diz sobre os que vieram antes.

     Portanto, Sócrates é mortal.

     Não há sequer resquícios de sua carne, e os farelos de seus ossos já se integraram à terra, à água e ao ar, de modo que não há mais algo vivo, uno, a que possamos chamar Sócrates. Talvez pudéssemos dizer que há partículas de Sócrates por todo o globo, após milênios de sua morte, considerando o destino delas que se cogitou logo há três linhas. Entretanto, não é uma molécula de Sócrates em cada canto do mundo que faz daqui um lugar mais interessante.
     Mas se Sócrates morreu, porque ainda parece que nos diz suas ideias e teorias através dos séculos? Tudo que Sócrates teorizou foi repassado por gerações, chegando, embora não incólume, a nós hoje. Mas é apenas Sócrates quem tem o que dizer há milênios? Não; num só dia ouvimos dizer muito de vários que já deixaram o mundo. De vários mortais que já não existem. Ainda faz sentido dizer "todo o homem é mortal" quando a inteligência coletiva da civilização humana é fundamentada e modelada com sabedoria há tanto tempo nascida, misturada à sabedoria dos homens ilustres de hoje e dos que ainda virão, e assim para sempre? Sócrates está mesmo morto?

     Algo abstrato em cada homem é imortal;
     Sócrates é homem;
     Há algo abstrato, que todo homem tem, imortal em Sócrates;
     Se há algo abstrato imortal num todo, o todo não físico é imortal;
     Portanto, Sócrates é, em parte, imortal.

     O que se escreveu é óbvio. Mas não é possível ser simples para escrever isso com esse jogo de premissas. Talvez, de outra forma:

     O conhecimento de cada homem, se este o difunde, é imortal;
     Difundir o conhecimento torna homens imortais;
     Sócrates é homem;
     Sócrates difundiu conhecimento;
     Portanto, Sócrates é imortal.

     A lógica nos forçaria a sermos mais precisos, o que não é possível com poucas explicações. A penúltima remessa de premissas é mais precisa, mas mais confusa, que a última. Contudo, sabe-se bem que homens vivem por séculos. Inconscientemente, todos aspiram por esse tipo de imortalidade.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Gealt

     “Você”

     Horst sentiu as palavras mais do que ouviu. Pareciam estar entrando em sua cabeça sem passar pelos ouvidos. Era a voz de Gealt, mas Horst não conseguia identificar seu rosto para ver seus lábios moldando as palavras. Tudo o que via era um céu sem estrelas se erguer distorcido por cima do monstro que olhava para baixo, em sua direção. Era um vulto negro, uma sombra sólida flamejante, seus olhos ardiam em chamas que de tão intensas pareciam vir do próprio inferno.

     “É a sua vez de cair no abismo”








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Velhos projetos.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Perfeitas imperfeições

     "- O ser humano está sujeito a contradições e incoerências."

     - Enquanto quisermos continuar humanos, sim. Graças a Deus, ou seja lá qual for a força motriz deste mundo.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

     Fritei batatas para o chefe.

     - Excelentes batatas, Felipe.
     - Obrigado, Sr. Francisco.
     - Assine aqui sua demissão, por favor. E saia de minha sala sem demora.
     Mais um começou. Como ela reagirá, desta vez? É a mesma história de antes. Same old story, same old song and dance.

     Pretendo ser mais frio e esquivo. Alguém não vai se dar bem com isto. Provavelmente serei eu. Que se há de fazer?


- é, agrada-me escrever sem aparente nexo. É uma porção de pensamento já na metade do caminho transcrito. Não vale muito. E ela provavelmente mal vai deduzir que trato dela nesta abordagem.

sábado, 15 de janeiro de 2011

     Queria encontrá-la uma vez mais. Sei que não me negaria a mão. Que, por mais que não goste, não negaria se molhar na chuva comigo. Eu voltaria para me despedir outra vez, ela estaria me aguardando, pois sabe que sempre volto. Não entrava antes de me esperar voltar três vezes para dizer um novo adeus.

     Ela tinha bons lugares a ir, e se não tivesse, qualquer um seria bom apenas por estar com ela. Não é daquelas pessoas que infunde indecisão por ser timorata. Não, não; jamais fora de muitos "talvez".

     Sinto falta de montar guarda em frente à sua casa para surpreendê-la no ponto de ônibus. De receber seu convite para sair e cancelar quaisquer compromissos com seja lá quem fosse. Eu repetiria esse ato e perderia mil amigos e possibilidades só para atender-lhe o desejo novamente.

     Eu ouviria seu lamento outra vez. E iria prontamente ao seu encontro, e sem dúvida olharia em seus olhos o quanto pudesse - para sempre, se a fome e o cansaço não açoitasse, outrossim, o corpo dos que se perdem a vislumbrar o amor -, e tomaria sua compleição longilínea num largo e envolvente amplexo; não sobraria espaço que nos equilibrasse, e tombaríamos se nenhum dos dois ao menos tentasse, com os cotovelos ou ombros, se escorar em alguma parede para evitar a queda - sem que o outro percebesse esse cuidado, para que não desviasse a atenção do abraço para o fato de que caíam.

     Eu aceitaria seus desvarios e excentricidades só para que me abraçasse cada vez mais forte.

     Se eu pudesse brigar com ela mais uma vez, se eu pudesse correr atrás dela mais uma vez, se eu pudesse ser perseguido por ela mais uma vez, se eu pudesse tomar um sorvete com ela mais uma vez, se eu pudesse pisar a grama com ela mais uma vez, se eu pudesse estar ao lado dela mais uma vez, respirando o ar da mesma paisagem, aspirando pelo brilho do mesmo luar, expirando o suspiro pela mesma intenção, ah!, se eu pudesse, não perderia meu tempo escrevendo sobre coisas que não posso.

     Sorria-me novamente, deixe-me trançar teus cabelos novamente, permita-me que te faça cócegas na barriga novamente, diga-me: "Que há? Não me darás o braço para caminharmos? Vem, há uma bela árvore pela sombra da qual poderemos sentar; durante esta época, caem-lhe as folhas, e se ficarmos um bom tempo sem nos mexermos sob seus galhos, ao final estaremos recobertos por um véu de outono. Vem! Espero que tenhamos a sorte de este ser um dia em que muitas folhas despenquem!".





     Não sei mais.