Desacredito que o trabalho - da maneira como é hoje,
intenso, ocupador de boa parte da vida - seja essencial para o homem, como um
amigo meu certa vez disse. "O trabalho enobrece o homem", como dizem
alguns; talvez os mesmos que tanto se aplicam em instilar ignorância nas
pessoas para seus intentos mesquinhos...
Principalmente, desacredito na necessidade do
trabalho para a manutenção das ciências e das artes. Explico. Disseram-me,
certa vez, que, se o homem não trabalhasse tanto, se não se exaurisse numa
árdua tarefa cotidiana, não teria incentivos para devanear com "coisas
melhores". Somente desta forma, por exemplo, as grandes mentes artísticas
continuariam surgindo: da necessidade de fuga de tal realidade. Se não
precisássemos trabalhar tanto, o tédio tomaria conta dos homens e, cedo ou
tarde, ruiríamos intelectualmente, abandonando as ciências e as artes todas,
cedendo à preguiça e - isto não disseram, mas gosto de criar perspectivas
exageradas e lúgubres -, por fim, nos entregando ao ocaso.
Entregarmo-nos ao tédio? Já não é o tédio, às
escondidas, o que vivemos? Ou a agitação do mundo do século XXI não é mero
tédio preenchido com futilidades? Damo-nos a inúmeras atividades tolas que
preenchem o que resta de nossa vida que já não está ocupado pelo trabalho - e
os estudos, hoje voltados quase totalmente para um futuro de trabalho,
parecem-me, em grande parte, somente uma face deste. O que há para ser escrito
ou pintado sobre o mundo de hoje? Todas as coisas, ainda, mas numa perspectiva
de fugacidade de cada instante que nos parecia precioso antes de nos escapar...
e nos escapa porque é mais proveitoso irmos às compras.
Já vivo naufragado no tédio. Recolho parcelas de
felicidade durante meus dias em uma ou outra atividade que me agradam
verdadeiramente; as outras coisas são só o tédio, rondando, espreitando,
esperando por se fazer notar bem de leve, como o bater monótono de corações
desmotivados e os cliques de catracas girando.
De que maneira o trabalho, como ele é hoje, eleva a alma,
a enobrece, então? A uma arte triste, que contempla, melancólica, perspectivas
aparentemente inatingíveis de conforto físico e mental e da opção de preencher
o tempo livre com uma vida de verdade?
E tudo que gostaríamos de fazer, mas nunca faremos porque
não temos tempo, e quando o temos, apenas o vemos passar?
E, mudando de assunto, hoje caiu na prova uma questão
sobre digressão.
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