Sexta-feira
Dia em que todos vão estar ocupadíssimos
E você que ficou em casa fica sem nem saber se está sendo ignorado porque a pessoa nem quer saber de você ou se porque não existe nem tempo para olhar para o celular (onde estamos sempre olhando) para saber se você está vivo ou não
Até pouco tempo atrás era questão primária você chegar em casa às 23h15 da sexta-feira, pois você estava bêbado como há muito não ficava. Mas agora não é tão importante assim saber disso...
Você só está em casa sozinho enquanto todos estão em qualquer lugar extremamente satisfatório, onde cada um se sente bem, cada um encontra um lugarzinho que lhe dá algo de pouco ou de muito para sobreviver mais um dia, e na verdade todos vocês estão certos, é difícil, e sobreviver só mais um dia, só mais um pouquinho, é muitas vezes questão vital.
Mas quando você está na sua casa e não existe nada além desta página em branco para escrever, nenhum movimento em sua direção, nenhum dispêndio de energia a seu favor enquanto há um mundo de mini-alegrias ali fora, dentro da sexta-feira; enfim, neste exato momento, existe um gatilho de morte tão pequeno e tão infinito na sua mente que agora sim você entende como um buraco negro pode conter tanta matéria num ponto tão minúsculo. Agora sim você entende aquele momento tão breve em que as dores nascem já como uma árvore antiga e deformada, é apenas um segundo de vida e já algo tão horrível que se mostra... e as raízes já estão em todo lugar, não há mais o que fazer...
Nesta sexta-feira em que o mundo está tão ocupado, você perde um pouquinho mais disso que chamam de vida e ninguém vê, mas depois todos te perguntam "ué, Felipe, quando foi que você ficou assim tão triste?"
E eu queria responder "naquela sexta-feira em que eu tinha tanta dor e tanto a dizer mas todos tinham tanta alegria e tanta coisa a fazer que eram como dois universos, eu e os outros, e não há mesmo nada a explicar, as coisas pertencem a mundos diferentes. É como ter que explicar desde o princípio o que são coisas como o ar, a terra, o tato, a visão, coisas tão óbvias que não tem nem como saber por onde começar... Por que eu gastaria meu tempo explicando?"
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