segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Pergunta do Orkut: "Como seria seu primeiro encontro ideal?" (alguém aí se lembra disso?)


Ah, essa é fácil. Após algum tempo num amistoso relacionamento, encontrar-me-ia com a amada para sairmos à luz da noite. Sob as árvores de uma praça iluminada pela lua através do limpo céu hibernal, sentar-nos-íamos num banco de madeira já desgastado e descascado pelo tempo e pelas paixões. Haveria um momento de hesitação, em que tentaríamos encontrar estrelas às quais atribuir significados e imagens, e veríamos as folhas sendo empurradas a esmo pela leve, porém fria, brisa que nos inculcaria desejo pela proximidade. Haveria o toque de meu braço nos seus ombros, e o do dela em minha cintura; então recostaríamos cabeça em cabeça e veríamos a lua, cheia de histórias de incontáveis gerações de amantes, que me faria dizer, aos ouvidos dela, versos de belos poemas; outras tantas palavras minhas que eu teria afiado durante as últimas semanas antes desse encontro; e ainda outras tantas que formularia no instante, improvisadas – e, decerto, mais importantes que as treinadas. Ela as ouviria, e tornaria o rosto um pouco para mim, ainda recostado ao meu, a fim de flertar-me idílio eterno. Eu, tomado por todas as inspirações românticas que uma alma pode espontaneamente laçar do éter em momentos como esse, quando toda a razão se esvai e não importam mais as intrigas internacionais e interplanetárias e quaisquer respostas sobre a vida, o universo e tudo mais, lançaria ao pé de seu ouvido uma canção; uma canção que não mais seria de artistas e plateias, nem só minha ou dela, mas nossa, uma música só nossa, mais que todas as outras. E quando ela ouvisse os versos que para sempre representariam nossa união, um último movimento traria seu olhar ao horizonte do meu e nos contemplaríamos as almas – não mais fugazes, não mais escapando pela curva por trás das íris –, rutilantes de paixão, no fundo das pupilas. Haveria sorrisos, no rosto de cada um, que só um beijo conteria e incorporaria para o outro. Haveria quem pudesse nos observar abraçados e apaixonados, mas sem nunca poder imaginar a intensidade do amor que fluiria entre nós. Haveria algum belo esquilo, algum pássaro insone a nos espionar, algum pirilampo luzindo seu reduzido universo; e só um talentoso artista seria hábil para notar e pintar, num retrato nosso, algum deles, tornando a cena ainda mais especial e mística. Haveria o piscar de alguma estrela morrendo e o de outra nascendo. Haveria, enfim, ainda, claro, o banco de madeira, as árvores da praça, as folhas dando cambalhotas, tocadas por Zéfiro, a lua soberana e a brisa do inverno; e seríamos nós parte daquela paisagem por aqueles minutos, como tantos já foram, como tantos ainda seriam. Um quadro estampado eternamente em nossa memória, absoluto em significado, forte contra todas as angústias da vida, sutil como todos os motivos do amor, indelével, intocável, lembrado sempre ao calar profundo das madrugadas e ao tocar de belas canções; vívido à recordação das palavras trocadas aos sussurros; quente, reconfortante; feliz, sempiterno.

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