sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Queria escrever seu nome

Eu sempre fui assim, de falar codinomes para escrever sobre as pessoas. Isso já há quase 15 anos... mesmo quando já não tinha nada a perder eu continuava escrevendo codinomes, ou a inicial do primeiro nome, coisas do tipo. N, J, B, essas pessoas aí, e também D, P, B, pois é, inicial igual não dava nem pra distinguir sobre quem era... e C, essa eu já dei fim, e foi uma das melhores coisas que já fiz na vida.

Eu queria escrever sobre várias pessoas e falar tanto sobre elas  agora, mas não consigo, e iniciais não vão me ajudar em nada... já escrevi contos inteiros para esconder na trama momentos que vivi com certa pessoa, porque eu preciso, preciso falar sobre essas pessoas, mas não me atrevo a me expor, mesmo que seja sempre tão óbvio, eu sempre poderia negar, "ah, não, era apenas uma história". Eu precisei dizer que estava me sentindo feliz por ter tocado a mão dela sem querer andando por aí, ou que uma vez, num passeio, sentei-me tão perto e meu rosto tão próximo que... nem sei... tanto tempo... e hoje me lembro mais é do vento no rosto, do cabelo solto e voando. Não digo se é meu cabelo, ou dela. No parque da Aclimação, eu lembro, olho no olho, e eu nem sabia de nada ainda... e na praça do catavento, uma promessa. Eu sempre precisei disfarçar minha vida inteira porque tinha tanto medo, e isso me fez ter tão pouco de tudo... e agora não é mesmo o momento de tentar dizer seu nome, falar como foi aquela vez, aquela outra, e a outra... agora, não... quem sabe, quem sabe um dia, agora que finalmente abracei as reticências e desprezei o culto, contrariando minha necessidade morta de uma estética do significado perfeito, quem sabe um dia eu finalmente solte também estas reticências e te chame pelo nome e fale aqui por onde foi que nós passamos e o que fizemos... e vou frisar seu nome, mil vezes, de mil maneiras, de mil apelidos... mas hoje, não, ainda não, desta vez ainda não posso...

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