Milhões de nós lutando e morrendo nas fronteiras pelos velhos e velhas camponeses, que esfomeados nos sustentavam, para sustentarem a si mesmos, para sustentarem uma nação que era o prenúncio do fim das nações, para sustentarem a humanidade e o mundo, colhendo o arroz com a foice e vivendo de migalhas, sabendo que o amanhã e a luta trariam o pão, a fartura.
Milhões de nós dobrando e moldando o ferro vermelho extremamente quente a marteladas e criando do zero um colosso, capaz de enfrentar de igual para igual todos os velhos e podres dragões belicosos que, temendo a extinção, uniram-se para nos cuspir veneno, fogo, ácido, no intento de nos destruir.
Resistimos. O que fazíamos, fazíamos por muito mais além do que nossas próprias necessidades pediam. O sangue de incontáveis pobres e miseráveis de todas as eras era nosso próprio sangue. E nosso próprio sangue seria no futuro o de incontáveis outros, que de nosso triunfo dependiam para conhecer um mundo que nem mesmo nós poderíamos imaginar, livre, uma liberdade que pouco saberíamos descrever, tão profunda, imensa, nunca antes provada por alguém. Este sangue é nossa única herança, e a maior de toda a humanidade.
Das pessoas mais estudadas à mais humilde cozinheira, todos éramos líderes, pioneiros e pioneiras de uma transformação completa na sociedade, dando um passo para fora da pré-história da humanidade em direção à verdadeira História, à busca do que se esconde além do horizonte das possibilidades, e mais adiante, além das fronteiras dos mistérios minúsculos e dos imensos.
Um universo inteiro se desvelava à nossa frente, hostil aos parasitas que nos devoravam há milênios. Levaríamos aos quatro cantos do mundo nossa voz e nossa força, dissipando a névoa de ilusões da mente de nossos irmãos e irmãs, e seríamos, então, invencíveis, no decorrer de apenas um instante.
Mas então você, junto a seus aliados e capangas, nos traiu, nos envenenou, nos debilitou, nos fez retroceder em inúmeros avanços, conspurcou nosso nome, nos impediu de lançar nossa voz ao mundo e de nos unificar.
Ainda hoje, tantos que poderiam estar ao nosso lado morrem achando que nós é que estávamos errados, servindo sem saber aos verdadeiros inimigos.
Seu nome é uma ofensa à revolução; seu crime um dos maiores já cometidos, senão o maior; maldito seja, verme, degenerado, que deveria renascer mil vezes, confinado e inofensivo, só para sofrer mil vezes a agonia da morte, e ainda seria pouco.
Seu legado é a continuação da miséria.
Maldito seja, verme, você e todos os seus seguidores.
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