domingo, 26 de setembro de 2010

Abandone o estilo

     Deixe de lado as comparações e a outra metade de metaforismos diversos. Renuncie à narrativa impecável, à obrigatoriedade de seguir tempos verbais à risca, perca a fluidez. Pare de medir os parágrafos com os dedos. Pelo menos por alguns instantes, ou dias, ou meses, anos, o tempo que precisar, durante o tempo em que se sentir bem, até se sentir renovado.
     Livre-se da obrigação clássica de ter que inovar, e inove simplesmente por não inovar em nada, e até disserte sobre isso, sobre as razões disso, sobre a previsibilidade elevada a si mesma, esta loucura consciente. Deixe a entender esta novidade de forma que se percam tentando tirar a prova real, o seu motivo último.
     Abandone o estilo. Abandone os padrões, todos eles, que desde sempre conseguiram te reger. Livre-se da rima rica, das irmãs coesão e coerência e, enfim, esqueça que a literatura implica em algum tipo de compreensão e se deixe levar em absoluto pelo devaneio eterno de sua imaginação.

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