domingo, 26 de setembro de 2010

Os lindos desfechos românticos

     Não se pode mais escrever algo grandioso. As pessoas esperam sempre desfechos lindos e simplistas, que possam ser apreendidos com o menor dos esforços pelas suas cabecinhas preguiçosas. Nem para enredos objetivamente dissecados e explicitados de novelas que duram meses rodeando assuntos simples dão uma chance! Há mil revistas semanais explicando para as madames de forma ainda mais simplória tudo que não têm interesse de tentar compreender, indicando as ligações que nem ousam por si próprias fazer!
     Não pode ser!
     Não! Que não seja o fim das grandes histórias, cujos heróis perturbados, oscilando entre a responsabilidade de seus destinos e o apego pela vida, se sacrificam, sem volta, pelos seus objetivos! Pois tantos são ressuscitados depois! Que atitude medíocre, de tantos criadores, permitir sempre a ridícula, absurda e forçada felicidade completa de suas personagens ao final de cada romance!
     Não há tragédia real no mundo que não seja reparável, então? Escrever é dar vazão aos sonhos, mas... por que nunca permitir à arte uma renovação em seu potencial emocionante? Por que nunca destruir quaisquer expectativas de quem lê, ouve, assiste? E, mesmo quando se tenta criar um enredo mais cruel para as personagens, sempre há tempo, e por isto todos esperam, para a consumação de pelo menos um lindo beijo apaixonado antes do apocalipse, antes que o casal nunca mais se encontre. Por que não o desespero da absoluta perda física? Da insatisfação eterna, do completo erro; por que não a manifestação chocante de um ódio surreal de alguém por si mesmo por ter dado chance ao mais abjeto fracasso?
     Para onde levaram e trancafiaram a beleza da verdadeira tragédia? É reconfortante a história que termina sem perdas significativas. Entretanto, sempre procurei alguma que me fizesse emocionar verdadeiramente, lá no íntimo. Por todos os esforços terem sido em vão, queria chorar de angústia. É um tipo de emoção que não se encontra mais descrito. Talvez mais real e comum que se imagina.
     Matarei mais algumas personagens minhas.

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