domingo, 26 de setembro de 2010

Coisas diversas

     Estou para falar sobre coisas diversas.
     Estou muito irritado. Torci para que alguém de cara feia me irritasse um pouco além do normal hoje, depois de determinado momento. Só para ver até onde conseguiria me segurar para não esbravejar, ou descolar uma briga estúpida.
     Sabem, estive pensando sobre pessoas. Bem, cada dia mais se afastam de minha mentes as incólumes percepções que de uma tinha. Perdem o brilho incomum e se tornam vulgares com uma facilidade tão maçante, as pessoas, as coisas! O que mais intriga é lembrar de como ainda há pouco eu ainda sustentaria em ideologia sua imagem repleta de uma graça resplandecente, uma leveza sublime; mas, hoje, ela toma a forma banal do grupo geral de pessoas meramente “interessantes”. Não omitirei que há uma vibração no fundo de minha alma que a guarda em toda a sua beleza mais apaixonante – aquela primeira beleza, que permanece fora de todo o tempo, de toda palavra, de qualquer ponderação –; agora, entretanto, parece apenas um resquício ainda grave, ainda vivo do passado, mas prestes a desafinar, a desbotar. E, olhe, de outra poderia dizer que é alguém que se deve deixar antes que se queira demais, mas quero mesmo até parecer presunçoso e orgulhoso enquanto puder acreditar em toda a força da afinidade. Sou eufórico com cada pequeno sucesso – embora qualquer deslize me desmoralize gravemente –, e sou melhor neles que nos grandes. Apraz a mim acompanhar o desenvolvimento do afeto, a evolução do desejo; é uma cascata borbulhante de emoção no coração a cada sentimento recíproco, a cada ideia correspondida, a cada pensamento antecipado.
     Cheguei a uma pequena conclusão, talvez improvável, inexata, mas interessante, hoje: o se ama os detalhes – consequentemente, o passado, pois os detalhes de que falo são fatos, não aleatoriedades ainda para surgir – ou o continuum, a experiência em decurso. Há os que prestigiam o passado, os locais, suas histórias, e os que apreciam a mudança, o dinamismo, o que se torna novo. Não se pode amar os dois, verdadeiramente, ao mesmo tempo. Não se pode amar as vielas históricas de sua cidade quando se ama o progresso que as quer reformar. Nem a facilidade de um laptop quando não se consegue se acostumar com um teclado tão miúdo e com a ponta do dedo como mouse. Não sei dizer se um ou outro é mais ou menos condecorável, válido; sei que faço parte, acho, dos que gostam dos detalhes.
     E, digam, não acham que falta alguma coisa muito grande na configuração do universo, algo que nos permita vazar reflexões inefáveis e toda a ideologia do pensamento? Sinto-me muito afogado nas coisas que penso. Literatura, por si só, não me parece que será sempre suficiente; quis me expressar por música, mas ela também, sozinha, não atinge todos os objetivos. As duas juntas, como tento misturar, também ainda não são completas. Talvez a única solução possível seja a empatia total entre todos os indivíduos, o que, num primeiro momento, seria uma avalanche de informação e satisfação, mas, num segundo, a unificação de todas as ideias e pensamentos. Seríamos uma unidade, seríamos deus, não existiria nenhuma necessidade espiritual que nossa unidade não suprisse. Seria uma questão de escolha: continuar como estamos ou sanar todas as dúvidas e satisfazer todos as vontades da alma por um certo tempo... pelo preço do fim do progresso científico e tecnológico da humanidade e, depois desse certo tempo, o eterno enfado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário